quarta-feira, outubro 16, 2013

Sacerdócio é o ...

Sobre o dia dos professores:
Diante de alguns recados, homenagens... aproveito para compartilhar e convidar à reflexão.
"Observações rápidas sobre o Dia do Professor:
- O magistério não é um sacerdócio. O discurso neste sentido ferra o professor e legitima a ideia de que devemos mesmo trabalhar em condições adversas e aceitar as coisas como cordeiros mansos, em nome de uma certa "missão de ensinar". Magistério é carreira profissional e o professor deve ser dignamente valorizado pelo exercício de suas funções. Quem quer exercer sacerdócio, virar guru, conduzir multidões ao saber iluminado, deve procurar o seminário mais próximo.
- O professor que se acha detentor do saber (eu já me achei em priscas eras) é uma besta. O professor que, por sua vez, viaja no populismo barato de achar que quem ensina para ele é o aluno, também escorrega na demagogia mais rasteira. Proporcionar a circulação dos saberes e despertar a curiosidade do aluno para a aventura do conhecimento me parece ser a base da nossa função.
- A escola no Brasil está em crise. O discurso de que o ensino deve formar o cidadão pleno se choca com a gritante tendência - ampla - de se encarar a escola como uma instância domesticadora de gentes para os currais implacáveis do mercado de trabalho. Quem pode subverter isso é, evidentemente, o professor.
- Em 15 de outubro de 1827 o Imperador D. Pedro I criou, por decreto, as "Escolas de Primeiras Letras" no Brasil. Eis aí origem do babado."
Luiz Antonio Simas

Add:
Natan Cunha: As palavras do Luiz Antonio Simas vão na direção das do Idelber Avelar (aliás, os dois são amigos):

"Obrigado pelos parabéns no Dia do Professor. Gosto de recebê-los, mas eles têm muito mais valor para mim se você:

1. Evita o termo “sacerdócio”. Não somos sacerdotes. O magistério é uma profissão como qualquer outra, com a diferença de que somos mais vilipendiados e mal pagos que a maioria. Sacerdote, guru, padre, pastor – isso aí é outra coisa.

2. Evita também o termo “nobre”. Sei que supostamente é um elogio, mas o uso do adjetivo “nobre” para referir nossa profissão opera num registro curioso. Como se sabe, “nobreza” é uma classe social anterior e exterior à circulação da compensação financeira capitalista conhecida como “salário”. Tal como “sacerdócio”, o termo “nobre” acaba validando a situação de super-exploração em que vive o magistério.

3. Apoiou e apoia os movimentos de reivindicação e luta dos docentes, e denuncia governos que colocam a polícia para reprimi-lo, independente de esse governo ser do seu partido. Parabéns de quem apoia, relativiza ou silencia sobre violência militar contra professores, sinceramente, eu dispenso.

Desculpem ser rabugento, mas no Brasil eu garanto a vocês que 99% dos professores trocariam os parabéns e as flores no dia 15 de outubro por apoio efetivo durante o ano quando a gente sai às ruas para lutar contra uma situação profissional e salarial aviltante. Poucas categorias são tão humilhadas por governos. Um pouquinho de apoio durante o ano também seria legal."

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