quarta-feira, abril 01, 2015

Relato de Parto

Acordei no sábado, dia 7 de março de 2015, com uma perda de líquido, era véspera do chá da Olívia e a semana havia sido puxada. Liguei para o meu médico que estava em uma maternidade perto de casa, ele pediu pra ir lá fazer um ultra som e pra ele me examinar. Ora, eu estava com 35 semanas, a bolsa estava íntegra, um pouquinho de dilatação, mas sem contrações, saí de lá com um atestado de 1 semana e a recomendação de ficar de repouso, “não absoluto, mas repouso”.
Chegando em casa, por volta das 11 horas, começaram as contrações, bem levinhas e que eu ignorei enquanto pude: fiz hidratação no cabelo, me depilei, fiz as unhas... Afinal o chá era no dia seguinte, ela ainda estava com 35 semanas... Eu não queria acreditar que ela havia escolhido logo aquele momento pra nascer.
Às 18 horas já não dava mais para ignorar, tinha de ir ao hospital pelo menos pra ver o que estava acontecendo, mas ainda imaginando que chegando lá iam me dar algo pra atrasar tudo por algumas semanas... Tolinha, rs.
Liguei pro meu namorado, disse q estava sentindo umas dores e que era melhor ir direto no hospital ao invés de ligar para o médico, que era bom que a gente já conhecia lá. Entendam: fiz o pré natal pelo plano de saúde mas já havia resolvido que teria pelo SUS, por todos estes motivos de desejar muito um parto normal e humanizado e saber que esse hospital oferecia isso.
Chegamos lá por volta das 19 horas, as contrações já estavam regulares e em intervalos pequenos, quando a enfermeira fez o toque (não senti dor nos exames de toque) já estava com 5 cm de dilatação, ela disse que ia me internar, e que do jeito que estava não ia demorar para a Olívia nascer.
Choque! Eu não estava preparada pra isso – ainda ia olhar a questão da doula, das músicas, da mala da maternidade, fora o chá no dia seguinte, as fotos que eu queria tirar............... Maaas a minha única opção era encarar o trabalho de parto, junto com meu parceiro que esteve ao meu lado o tempo todo.
Resignada e obstinada que sou, perguntei pra enfermeira na internação qual era o máximo de tempo que durava uma contração - 45 segundos – elas vinham, eu fechava o olho, apertava a cama e contava mentalmente, no segundo 15 começava a doer muito, no 20 era quase insuportável e nos 30 ia diminuindo a dor até parar.
Em mais ou menos duas horas, na sala de pré parto, já havia completado 10 cm de dilatação, as contrações já vinham em menos de um minuto de intervalo e doía muito, mas a bolsa estava íntegra. Por volta das 23:30 eu pedi anestesia, eu não sabia quanto aquilo ainda iria durar e quando levantei para tomar e ir pra sala de parto (que demorou a liberar) começou o período expulsivo. A dor era muita e não achei que a anestesia fez taaanta diferença, mas, com certeza, deu alguma aliviada.
Era difícil me locomover por causa da dor, fui para o chuveiro, sentei no banquinho, cantei, considerei uma cesárea (rs), bebi água, chamei a Olívia com o hino do Cruzeiro, gritei, xinguei, ri... Vivi intensamente a partolândia.
Frequentemente os enfermeiros vinham checar os batimentos cardíacos da pequena, em algum momento, já impaciente, perguntei ao enfermeiro se ia demorar, ele perguntou se eu queria que rompesse a bolsa, e no toque que ele fez se deu o rompimento. Ele disse que a partir de então só dependia de mim e da Olívia ainda dentro da minha barriga. Me aconselhou que fizesse forças longas nas contrações, que já estavam bem emendadas uma na outra, e a vontade de fazer força era grande mesmo, ainda sim demorou mais um pouquinho.
Resignada e já cansada, quando menos esperei, às 3:35, veio a Olívia, veio assim de uma vez! Que delícia ouvir aquele chorinho (já tinham me dito que seria um sinal de q ela não precisaria ir pra UTI neonatal!!!). Por ela ser pré matura chamaram a pediatra às pressas, mas a Olívia veio um pouquinho no meu colo antes, naquele momento mais emocionante do mundo. A pediatra examinou ela do meu ladinho e como estava tudo bem ela voltou logo pro meu colo e ficamos nós três ali curtindo aquele momento que pode ter durado a eternidade, ou só 30 minutos, não sei ao certo.
Um balanço geral:
. No fim das contas quem faz o parto é mesmo a gente, estivemos eu e meu namorado a maior parte do tempo sozinhos, vivendo e aproveitando aquele momento da melhor maneira que pudemos. Foi extremamente especial estarmos juntos esperando a Olívia num ambiente calmo, à meia luz, só nós dois.
.Talvez se eu tivesse tido tempo de me preparar melhor, tivesse tido uma doula, as músicas que queria, os instrumentos que pensava, pudesse ter lidado melhor com a dor, mas isso nunca saberei.
.Ela não saiu de perto de mim nenhum minuto, não fizeram nenhum procedimento desnecessário e desconfortável e só tomou banho no dia seguinte.
.Não me arrependo de nadinha de nada, hoje já me emociono com saudade do parto, não me lembro de como era a dor, tudo me remete ao finalmente de ter minha filha comigo, então viveria aquele momento milhões de vezes e recomendarei um parto normal um milhão de vezes.
.Levei dois pontinhos superficiais que não chegaram ao músculo nem nada e curaram rapidinho.
.Pari sentada com as pernas num arco preso aos dois lados da cama, bem como uma circense se alongando, rs
No fim das contas, eu, que faço um escândalo por qualquer trombadinha de dedo na quina e que sou a rainha do planejamento, entreguei o controle de tudo e PARI.
Por fim uma musiquinha pra esse momento tão lindo... Se a música da minha gravidez foi “Deusa do Amor” do Olodum (escutei e cantei muuuito na versão do Moreno Veloso) a que eu escolho pra esse momento maternidade que estou vivendo é Chuva na Montanha do Lô Borges (Coloca aí no youtube vai!)
Anda vem me lumiar com sua chama
Vai anoitecer
Não me importa se o vento quer entrar na nossa porta
Pra assustar você
É que ele não pode entender
Vento não tem onde se deitar
Eu também não descansei até surgir você...
Corre estrada, gira mundo e na cabeça
Torre de Babel
Como pode haver um rio sem a chuva da montanha
Pra poder seguir
Sou um rio que procura o mar
Minha chuva chove de você
E a gente vai andando
Vai amando até o fim.